A fascinação pela nobreza, os costumes de época, as roupas e cenários belíssimos de Downton Abbey não são só fruto da imaginação do seu criador, Julian Fellowes. Toda produção é resultado de uma cuidadosa pesquisa histórica, que levou em conta as regras sociais do início do Século XX de forma poucas vezes vista na TV.
Por isso, o Séries News foi buscar em entrevistas dos principais envolvidos na produção detalhes que revelam como o show foi construído nos bastidores da gravação - para saciar a curiosidade e responder algumas perguntas dos fãs. Vamos então saber como era a vida nos tempos de Downton Abbey:
Menos afeto, mais higiene
Se você acha estranhas certas maneiras distantes dos personagens, ou atribui a aparente falta de afeto que eles demonstram à famosa frieza dos ingleses, saiba que tudo isso tem uma explicação.
O fato é que nós, acostumados à atual pegação generalizada propagada por programas de TV cada vez mais ávidos por audiência, ficamos incomodados com o fato de que os personagens de Downton mal se tocam em cena - mesmo os mais apaixonados como Matthew Crawley (Dan Stevens) e Lady Mary (Michelle Dockery).
Até em situações que para qualquer família atual renderiam muitos abraços de consolo, como o período de angústia de Lady Edith (Laura Carmichael) após o desaparecimento de seu namorado, o conforto físico está ausente. Qual será a explicação?
Pessoalmente, acho ridículo quando séries supostamente de época tentam dar atitudes e modos modernos aos seus personagens. É uma enganação do público e um desserviço para a sociedade, fazer parecer que as pessoas sempre agiram e pensaram da mesma forma que hoje, e que não houve mudanças para melhor ou para pior.
Patrões e empregados:
Na sociedade britânica da época, sólidas barreiras separavam as classes sociais - e elas eram rigidamente respeitadas. Dificilmente algum empregado pensaria em discutir seu papel numa casa como a dos Crawley. Uma relação mais próxima, como a de Lord Robert (Hugh Bonneville) com Carson (Jim Carter) ou Bates (Brendan Coyle) era fruto de muitos anos de convívio e respeito mútuos, mas sempre com cada um mantendo seu lugar no extrato social.
Nos salões e quartos da casa - a parte alta, "acima das escadas" - empregados moviam-se com cuidado, jamais apareciam sem serem chamados e faziam o máximo para que sua presença mal fosse percebida. A assistente de cozinheira Daisy (Sophie McShera), que mesmo entre os empregados estava num extrato inferior, sequer podia transitar por esses lugares.
Em contrapartida, a cozinha e os aposentos dos funcionários - "abaixo das escadas" - eram quase uma zona de trânsito proibido para os senhores em sua própria casa. Um lugar que mesmo Lady Cora (Elizabeth McGovern) dificilmente frequentaria.
Por isso causa tanto escândalo quando o motorista Tom Branson (Allen Leech), um jovem de pensamento socialista, se aproxima de Lady Sybil (Jessica Brown Findlay). A fuga dos dois é quase uma condenação de ostracismo social para ela, revertida apenas em função de circunstâncias preocupantes envolvendo a segurança do casal. O retorno deles à Downton causa estranhamento não apenas para a família, mas entre os antigos colegas de trabalho de Branson. Carson o acusa de não saber o seu lugar. Thomas (Robert James-Collier) recusa-se a servi-lo. A babá que cuida da pequena Sybbie (Ava Mann) a maltrata, e chama a menina de "mestiça".
O que hoje seria taxado como preconceito, na época era uma reação comum a uma situação surpreendente, que dificilmente acontecia.
Um mundo em frenética transformação
Há muitos motivos por trás da fama de "frenéticos" dos anos 20 do século passado. No contexto histórico-social da época estão o início de uma mudança drástica no papel das mulheres, a ascensão da tecnologia e a desintegração da hierarquia de classes. Dá para imaginar como ficava a cabeça de um Lord Crawley com tudo isso?
"É por isso que Lady Violet (Maggie Smith) é uma personagem tão importante, porque ela é a grande testemunha de toda essa mudança", explica Jessica. "Ela cresceu em uma era vitoriana de carruagens puxadas a cavalo e luz de velas. Mas o mundo ao seu redor foi alterado de um modo extraordinário e muitas vezes desconcertante. A Condessa de Grantham teve que lidar com a eletricidade e a condução de automóveis, jazz, mulheres votando, trabalhando e um governo socialista".
Paralelo com os dias de hoje
Os personagens da série vivem uma vida que não parece nem um pouco com a nossa, com suas casas enormes e muitos servos. Mesmo assim, Jessica acha que o mundo de Downton Abbey compartilha muito com o de hoje. "Atualmente, como há 100 anos, tem havido enormes e repentinos avanços em tecnologia que impactaram a sociedade em geral. Na última década nós experimentamos uma taxa semelhante de mudanças, com telefones celulares, novos meios de comunicação social e ciência genética", diz.
"Se muitas pessoas hoje em dia compreendem como Lady Violet se sentia, é porque nós mesmos nos sentimos assim", explica. "Eu já tive conversas com meu filho sobre como era a vida antes da Internet e dos telefones celulares, e me senti com 150 anos de idade." E é essa a razão que Jessica encontra para que tanta gente ame ver Downton Abbey: saber como aqueles personagens lidariam com tudo isso no passado mais realista da ficção.
Fotos: ITV e Internet
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